9.12.08

Intrépidos

Sons intrépidos corroem,
Esmagam e roubam
Sons intrépidos movem-se rápido,
Como luzes, como raios, como facas.

Sons intrépidos esgueiram-se para fora,
dão a volta e recomeçam.
Sons intrépidos saem e entram,
correm e param, correm e param.

Os sons impõem-se, empurram.
Os sons desmancham, descuram.
Estes são sons gritantes,
Trementes, dementes, ais entre dentes.

Sons que ferem, que mentem,
(... que sentem?)
Sons que partem e consentem...
Sons não têm medo de matar.

26.11.08

Spinning Plates

"
While you make pretty speeches
I'm being cut to shreds
You feed me to the lions
A delicate balance

And this just feels like spinning plates
I'm living in cloud cuckoo land
And this just feels like spinning plates
Our bodies floating down the muddy river
"
in Spinning Plates, Amnesiac (Radiohead)

21.11.08

O Abutre

Este não voa em círculo,
Mas corta picado o ar já fétido
(sabe o que quer)
Deleita-se enquanto me espera,
Saliva enquanto me antecipa o sabor...

O meu Abutre é só meu,
e só a minha carne devora
mesmo que ainda não morta,
mesmo que só moribunda.

Este Abutre é portentoso,
De cima é um Rei dos Mortos,
Uma capa negra, negra
Que consome o Sol de uma penada.

Este Abutre tem olhos tristes de criança sem pai,
As mesmas penas velhas desde que nasceu,
O mesmo amargo de boca que a minha carne não cura...
Este Abutre não sabe que vai morrer.

12.11.08

O Culpado

Sobre o Culpado pende o pêndulo
que oscila sempre para o mesmo lado,

Sobre o Culpado cai um mar de rosas com espinhos
que rasgam e cortam sem parar,

Sobre o Culpado mantêm-se pretas as nuvens
que chovem sempre água gelada e cega.

Sobre o Culpado persiste uma pedra grande,
que fica sempre maior.

Este culpado abraça o mal, chama o diabo, esfrega-lhe um olho...
e passa tudo a correr demasiado devagar.
O coração vacila mas ainda golfa.

O Diabo já não sabe o que fazer.

3.10.08

O Rumo

O rumo de pálida face
Prega rasteiras ao desesperado,
partido e desengonçado
homem cambaleante.

O homem senta-se de novo na pedra fria
e olha em redor.
Espera desespera,
o sol passa depressa.

A noite é assim,
dama negra lantejoula
Ofusca os olhos com escuridão enganosa
parece abraço quente de mulher fria.

E o rumo desaparece mais uma vez,
segue por si, para outra alma qualquer.
Mais uma vez este homem o perde,
Mais uma vez sem sentido se deixa ficar.

13.7.08

Nada

Arrasto os pés nesta areia branca
(é de noite)
o vento sopra forte, rente no chão,
criando sons metálicos que surgem como mosquitos,
da minha armadura, que brilha sozinha,
à lua.

O mar ruge devagar,
o céu tosse uma poeira branca,
... de nuvem e estrela.
Estou aqui neste lugar,
com a minha espada enferrujada,
em busca da morte.

Cansado de esperar,
arrasto-me de novo para a caverna,
onde adormeço e me esqueço quem sou,
esperando que amanhã seja de noite outra vez.

7.7.08

Reaparece

Caminho entre folhagens,
só.
Conheço o sítio mas estou perdido.

O bosque é denso e escuro,
(mais uma vez?)

De repente ensombra-se o caminho,
encurta-se...

...estreita-se.

Lembro-me! e eis que me aparece,
eis que me reaparece,
o monstro negro,
a Hidra de uma cabeça...
de musgo e rocha cortante...
...ofegante.


Assim não escapo, estou encurralado mais uma vez,
estou escondido, raptado de mim,
de novo no fim,
preso e enroscado no bafo quente,
do algo que se prepara para me devorar...

...mas que nunca o faz.

Segue caminho mais uma vez, mas vai voltar.

Quando?

Agora.

26.6.08

Este...

Este coração que aqui bate não é o meu,
Estas veias assim, como cordas esticadas...
... não são minhas.

Estas mãos aqui pousadas, magras e frágeis...
porém ousadas...
... não são minhas

Estes olhos de nuvem,
estes pés enterrados no chão quente que me engole
este ser que sou eu mas não sou eu,
... não sou eu.

Alguém aqui me ocupa,
que me oculta e esconjura.
Alguém me derrete os nervos
e me baixa a cabeça, me força a baixar.

Este alguém que assim me toca,
que assim me torce e me esmaga...
Este alguém que me tira tudo...
... sou eu.